sábado, 14 de novembro de 2009

Quem Tem Medo De Matemática?

Pessoalmente, penso que o condicionamento de massas a respeito do “diabolismo” dos números, vai meio pela linha do “Saber é poder”. Controle da grana (a saber, a manha de investimentos metadiversos – lucro e crédito –, nas bolsas de valores e afins); fundamentos “contemporâneos” plausivelmente consistentes por alicerces “provisoriamente” duradouros – a “visão maior” em micro e macro-econômica; “segurança” e administração da própria liberdade: afinal, a liberdade não “é o bem que nos permite desfrutar dos outros bens”?, como diria o iluminista Barão de Montesquieu; ora, o dinheiro não é denominado ou sinônimo de “Capital”, por mero acaso...

Qual seria o pior... O brechtiano “analfabeto político” ou o “analfabeto matemático”? Como ser um, sem também não ser o outro?

Aritmética, álgebra, geometria, trigonometria, cálculo, análise, teoria, probabilidade, estatística, logaritmo, enfim... Calcular pode ser ruim, mas os produtos são notáveis... Penso, que, salvas circunscritas exceções, quem “domina os números”, ostenta de certo modo “poder”. Pelo menos, no que diz respeito ao nosso “Atual Mundo Ocidental”.

Como a máxima atribuída à autoria de Aristóteles, reitero: “As ciências têm raízes amargas, mas seus frutos são doces”. Hmm...ou não. Tudo é relativo, pronto. Vou pro bar.

Revista Exame – Capital Digital

Quem Tem Medo De Matemática?

Por Helio Gurovitz

Muita gente. O problema é que ela é cada vez mais necessária

Desde criança me impressiona como gente extremamente inteligente e sensível pode ter medo de matemática. A infeliz divisão curricular entre ciências, por assim dizer, humanas e exatas só reforça a fobia. Ninguém diz "tenho horror a frases", mas muita gente não tem a menor vergonha em confessar "não suporto contas". Muitos sentem orgulho da própria ignorância — "eu gosto é de pessoas, não de números", como se uma coisa pudesse ser comparada à outra. Em situações sociais, se alguém comete algum erro grosseiro de português, pega muito mal. Se comete uma barbaridade matemática, com certeza se safa numa boa. Fazemos força para erradicar o analfabetismo do Brasil, mas não gastamos um tostão nem um só segundo para combater — com o perdão do barbarismo — o analfabetismo em matemática (em inglês, criaram até uma palavra para identificar o problema: mnumeracy).

Milhões, bilhões, trilhões, que diferença faz? Faz muita. Pense que, se você gastasse 1 real por segundo, levaria onze dias e meio para torrar 1 milhão de reais, mas 32 anos para se livrar de 1 bilhão. Percebeu como faz diferença? Mas, mesmo entre executivos e empresários (para não falar em políticos e jornalistas), dimensões e grandezas não parecem estar na ordem do dia. Nem estatísticas, probabilidades, proporções ou percentuais. O problema é que a tecnologia está. E, normalmente, a dificuldade de quem não consegue lidar com o computador não está na máquina. Está no analfabetismo em matemática.

Um computador não passa de uma máquina de calcular muito vitaminada. Tudo num computador é traduzido por números. Absolutamente tudo. Chamar algo de digital quer dizer, precisamente, que esse algo pode ser "numerizável" (em francês, por sinal, a tradução para a palavra digital é numérique). Como, então, alguém pode lidar com a economia digital se tem fobia de números? Como pode entender que a era da informação, no fundo, é a era numérica, já que os bits não passam de números (zeros ou uns)?

Os mais pragmáticos podem objetar que não é preciso saber como funciona um editor de textos ou um programa de apresentação de slides para usá-los. É fato. Um dos grandes avanços no mundo dos computadores foi torná-los mais palatáveis às massas. Mas qualquer um concordará que é impossível usar a tecnologia da informação da melhor forma nas empresas sem dominá-la. Como medir, por exemplo, se um investimento em programas e equipamentos sai caro ou barato? É nesse ponto que o problema se torna mais insidioso. Pois as mesmas pessoas que admitem com orgulho a ignorância em matemática morrem de vergonha de dizer que se sentem intimidadas pelo computador e deixam as decisões mais simples a cargo dos especialistas.

Não há motivo para vergonha. O sistema educacional doutrinou a maioria para ver a matemática como algo monótono que não incentiva a criatividade e nada tem a ver com a humanidade tão necessária hoje para gerir corporações. Para ter idéia de como é falsa a suposta oposição entre atividades técnicas e humanas, basta lembrar que entre os maiores representantes das últimas estão matemáticos como René Descartes. Blaise Pascal, Gottfried Leibniz ou Bertrand Russell. Se você encarar a matemática apenas como o que ela é — mais uma linguagem ou uma outra língua estrangeira —, perceberá como ela instantaneamente desce do pedestal do inacessível. E, de quebra, verá como fica fácil tirar proveito do computador.

hgurovitz@abril.com.br

econ.puc-rio.br/gfranco/HGurowitz_matem.pdf

on.br/site_edu_dist_2006/pdf/modulo3/medo_de_matematica.pdf

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